Ao longo do mês de novembro, Linha de Fuga propõe uma programação de espetáculos, performances, conversas e workshops que propõe “Enfrentar medos” como forma de chegar a uma sociedade mais harmoniosa e justa. Depois de uma pandemia que nos fechou em casa, com um medo real da morte, a sociedade enfrenta a sua ressaca, numa constante suspensão de futuro e numa crise de ansiedade global, com medos reais: a precariedade social e económica, as crises climáticas, as guerras, o fascismo...
Como defende o filósofo Žižek, os medos incutidos na sociedade pelos poderes que a pretendem controlar podem ser enfrentados quando tomamos consciência deles e nos unimos coletivamente, formando resistência. A programação desta edição é inspirada pela resiliência da comunidade artística, num mundo cada vez mais que se encontra cada vez mais desconectado de tudo. Através das perspetivas de artistas nacionais e estrangeiros, alguns em criação em Coimbra, convidamos à reflexão e ao confronto destes receios, através de obras que revelam fragilidades individuais e sociais, mas também esperanças e o potencial humano de, em coletivo, resistir e confrontar esses medos.
Raquel André (PT) põe-nos a pensar de onde vimos e o que significa o nosso lugar de pertença, confrontando-nos com as limitações mercantilistas da nossa família de ADN, Marina Guzzo (BR) propõe uma experiência que explora possíveis relações coreográficas entre pessoas e plantas, para imaginar coletivamente um futuro baseado em valores ecofeministas. Malicho Vaca (CL) leva-nos por uma viagem sensível sobre a sua história pessoal, estabelecendo um paralelismo entre a perda de memória individual (de sua avó) e a perda de memória coletiva de um povo. Paloma Calle (ES), de uma forma cómica e Inês Campos (PT), de uma forma poética, enfrentam os seus medos pessoais e expõem diante de desconhecidos respetivamente a violência incutida pela sociedade sobre todos os desvios sociais e sexuais, sobre a fragilidade da saúde mental e a ansiedade a que o sistema produtivo nos induz e Francisco Thiago Cavalcanti (BR/PT) fecha o festival demonstrando como resistir para escapar em coletivo a um mundo que nos quer dentro de limites sem imaginação. Duas artistas da dança propõem instalações dentro do projeto “O que Pisamos” da Apneia Colectiva, Elizabete Francisca (PT) expõe um trabalho fotográfico sobre as ancestralidades e Julia Salem (BR/PT) apresenta uma instalação sonora que pretende levar-nos a pensar os percursos e caminhos que fazemos; três artistas locais apresentam novas criações, num percurso de pequenas obras site-specific de Malu Patury com Thales Luz, Jorgette Dumby e Keissy Carvelli que nos expõem ainda outras visões sobre o tema desta edição.
O festival acolhe também um programa de conversas sobre o tema Do que temos Medo? numa curadoria do Observatório de masculinidades do CES/UC e de Catarina Silva com distintos convidados e áreas de conhecimento.
Em paralelo ao festival, decorre o
laboratório internacional de criação artística. Treze artistas de distintas origens e países estarão em residência em Coimbra durante 3 semanas para trabalhar, provocar, pensar e desenvolver as suas práticas artísticas, trazendo consigo projetos individuais que pretendem criar um diálogo com a cidade e seus públicos sobre como eles enfrentam os medos individuais e sociais.
Estamos felizes em conseguir apresentar mais uma edição de um festival que só existe graças a todas as parcerias que reunimos e ao desejo de gerar encontros entre artistas, espetadores e organizações. Esperamos que juntos consigamos enfrentar e ultrapassar todos os nossos medos e pensar nos bons exemplos de resistência coletiva, num ano em que comemoramos os 50 anos da Democracia em Portugal.