9 de Novembro 11h, 15h, 17h | 10 de Novembro 11h, Convento São Francisco
30 de Novembro 11h, 15h, 17h, Baixa de Coimbra (locais a anunciar)
As criações que se apresentam neste percurso site-specfic são fruto do desafio lançado aos artistas que participaram na formação Corpo | Território, uma formação baseada na troca de práticas artísticas, de encontros e de experimentação que Linha de Fuga desenvolveu entre Outubro de 2023 e Junho de 2024.
Ao longo deste período, Linha de Fuga encontrou uma comunidade de artistas independentes na cidade e região interessados em desenvolver conexões entre os seus desejos enquanto criadores e o território. Este é o primeiro desafio que Linha de Fuga lança à comunidade de criadores locais: criações curtas em espaços não convencionais onde seja possível o estabelecimento de uma relação entre o tema desta edição e o território onde vivem. As três performances produzidas por Linha de Fuga serão apresentadas em espaços não convencionais em dias distintos e espaços distintos, no Convento São Francisco e na Baixa de Coimbra, propondo assim também às criadoras pensar a possibilidade de levar a sua mensagem e intenções artísticas a distintos lugares e públicos. As criações que fazem parte deste percurso são:
CÊ VÊ (25’)
performance de Jorgette Dumby (AO/PT)
Partindo do texto "um país bronzeado repleto de pessoas racistas" publicado em 2022 no livro Volta Pra Tua Terra da editora Urutau, a performer pontua a desconfiança e a rejeição que acontecem com pessoas racializadas, que vivem a incerteza constante, pelo facto de nunca serem consideradas suficientes para desempenhar atividades em que até são excecionais, pontuando a forma como a sociedade lida com esses corpos, subjugando-os, desprovendo-os de valor, onde numa tentativa de falsa inclusão decide mandar na forma como estes se devem apresentar. Por que o cabelo de uma pessoa fazer imensos caracóis é associado a uma incapacidade intelectual, mesmo quando o diploma diz o contrário? Com a crescente precarização da sociedade há corpos que nunca saem desse lugar e quando há uma crise crescente, também são esses mesmos corpos os primeiros a sentirem essa violência, vivendo o medo constante de nunca sair da precariedade.
Numa busca que procura entender e instigar que textura podem ou não adquirir esses corpos da sociedade a quem a humanidade performer interage com vários elementos que habitualmente são encontrados num mundo mais corporativo, como por exemplo agrafadores, fita-cola, etc, colocando-os em contacto com o seu cabelo e o seu rosto, tentando saturá-los com esses elementos, sabendo que o seu cabelo e o seu rosto jamais serão considerados a cara da empresa, evidenciando um medo enfrentado por muitos outros e escancarando violências há muito vividas. É como se fosse uma dança que nunca começa.
Exercícios para subversões e inutensílios (25’)
palestra-performance de Keissy Carvelli (BR/PT)
Num mundo em que tudo tem que ser útil, esta palestra-performance busca, a partir da conceção da “inutilidade dispensável” do poeta, conceber um corpo-verbo tomado pela obsessão da pesquisa e da invenção como um meio de resistência à reificação do mundo. Possuída, paradoxalmente, pelo espirito do desdunde e pelo rigor do conhecimento histórico - comportamentos cultivados por uma galáxia de poetas performers entre tropicalistas, concretistas e marginais - esta performance parte da inquietação fundamental: poesia para quê? Para responder a tal questão, a criadora recolhe um planetário de vozes dissonantes, de manifestações artísticas e pensamentos teóricos que se manifestam como fonte de inspiração para a criação de um corpoceleste poético que provoca, questiona e teme o lugar do poeta no mundo contemporâneo – ser cuja existência nada produz além de palavras e pensamentos,esses inutensílios indispensáveis.
Rasgar a Noite (30’)
performance de Malu Patury e Thales Luz (BR/PT)
“Rasgar a Noite” é uma dança de mau agouro à própria dança e ao que nela resiste de misoginia estrutural, técnica e poética. É o presságio da morte de um corpo que busca romper com os movimentos automatizados decorrentes da organização da “supremacia” do olhar masculino. É uma arqueologia da carne com o ímpeto de resgatar um corpo capaz de criar outros movimentos que partam do corpo da mulher como agente de seu próprio desejo. É um esforço de liberação da exaltação da excelência do movimento feminino pela sua dor e submissão e constante aprisionamento a um estado contemplativo do belo transcendente. O que ressoa desses exercícios é um tipo de dança como o voo agourento de uma Rasga Mortalha irrompendo na noite, evocando o temível mistério de Ìyàmi, cuja origem cosmológica iorubá fundamenta o campo ancestral feminino amparado na multiplicidade espiritual brasileira.
November 9: 11am, 3pm, 5pm | November 10: 11am, Convento São Francisco
November 30th: 11am, 3pm, 5pm, Downtown Coimbra (locations to be announced)
The creations presented in this site-specific pathway are the result of the challenge posed to the artists who participated in the training Corpo | Território, a program based on the exchange of artistic practices, encounters, and experimentation that Linha de Fuga developed between October 2023 and June 2024. Throughout this period, Linha de Fuga connected with a community of independent artists in the city and region interested in developing connections between their desires as creators and the territory.
This is the first challenge that Linha de Fuga presents to the local community of creators: short creations in unconventional spaces where it is possible to establish a relationship between the theme of this edition and the territory where they live. The three performances produced by Linha de Fuga will be presented in unconventional spaces on different days and in different locations, at the Convento São Francisco and in spaces at downtown Coimbra, thus also inviting the creators to consider the possibility of bringing their message and artistic intentions to different places and audiences. The creations that are part of this pathway are:
CÊ VÊ (25’)
performance by Jorgette Dumby (AO/PT)
Starting from the text “A sunlit country full of racist people,” published in 2022 in the book Volta Pra Tua Terra by Urutau Publishing, the performer highlights the distrust and rejection that racialized people experience, who live with constant uncertainty, never being considered “enough” to perform tasks—even when they excel at them. The text underscores how society treats these bodies, subjugating them and stripping them of value. In a guise of false inclusion, society dictates how these individuals should present themselves. Why is it that when a person’s hair forms tight curls, it’s associated with intellectual incapacity, even when they hold a degree that says otherwise? With the increasing precarity of society, there are bodies that never escape this marginalized place; and when crises arise, these same bodies are often the first to bear the brunt of this violence, living with the constant fear of never breaking free from precarity.
In an exploration to understand and question what texture these bodies in society are allowed—or not allowed—to take on, the performer interacts with various elements typically found in corporate environments, like staplers, tape, etc., bringing them into contact with her hair and face. She attempts to saturate herself with these items, aware that her hair and face will never be “the face” of the company, highlighting a fear faced by many others and exposing long-standing, deeply embedded violence. It’s as if it were a dance that never begins.
Exercícios para subversões e inutensílios (Exercises for Subversions and Uselessness) (25’)
lecture-performance by Keissy Carvelli (BR/PT)
In a world where everything must be useful, this lecture-performance seeks, based on the concept of the "dispensable uselessness" of the poet, to conceive a body-word driven by an obsession with research and invention as a means of resistance against the reification of the world.
Possessed, paradoxically, by the spirit of desdunde and the rigor of historical knowledge—behaviors cultivated by a galaxy of poet-performers among tropicalists, concretists, and marginal figures—this performance starts from a fundamental inquietude: poetry for what?
To answer this question, the creator gathers a planetary array of dissonant voices, artistic manifestations, and theoretical thoughts that serve as sources of inspiration for the creation of a celestial poetic body that provokes, questions, and fears the place of the poet in the contemporary world—a being whose existence produces nothing but words and thoughts, those indispensable useless items.
Rasgar a noite (Tear the Night) (30’)
performance by Malu Patury and Thales Luz (BR/PT)
“Rasgar a Noite” is a dance of ill omen directed at dance itself and at what within it resists structural, technical, and poetic misogyny. It is the premonition of the death of a body that seeks to break free from the automated movements resulting from the organization of the "supremacy" of the male gaze.
It is an archaeology of flesh driven by the impulse to rescue a body capable of creating other movements that stem from the woman’s body as the agent of her own desire. It is an effort to liberate the exaltation of the excellence of feminine movement from its pain and submission and the constant entrapment in a contemplative state of the transcendent beauty.
What resonates from these exercises is a type of dance akin to the ominous flight of an owl bursting forth in the night, evoking the fearsome mystery of Ìyàmi, whose Yoruba cosmological origin grounds the ancestral feminine field supported by Brazil's spiritual multiplicity.
11h, 15h, 17h
Ficha artística CÊ VÊ
Texto "um país bronzeado repleto de pessoas racistas" Jorgette Dumby
Criação e interpretação Jorgette Dumby
Adereços, cenografia e figurino Jorgette Dumby
Olhar externo Catarina Saraiva
Agradecimentos Caju, Dori Nigro e Kácio Santos.
Ficha artística Exercícios para subversões e inutensílios
Criação e interepretação Keissy Carvelli
Operação câmara Keissy Carvelli
Produção Linha de Fuga
Ficha artística Rasgar a Noite
Conceção e interpretação Malu Patury
Interlocução dramatúrgica Thales Luz
Produção Linha de Fuga
Agradecimentos Keissy Carvelli, André Feitosa de Sousa
CÊ VÊ
Text "A Sunlit Country Full of Racist People"Jorgette Dumby
Creation and Performance Jorgette Dumby
Props, Set Design, and Costumes Jorgette Dumby
External Perspective Catarina Saraiva
Acknowledgments Caju, Dori Nigro, and Kácio Santos
Exercícios para subversões e inutensílios
Creation and interpretation Keissy Carvelli
Camera operation Keissy Carvelli
Production Linha de Fuga
Rasgar a Noite
Creation and interpretation Malu Patury
Dramaturgical interlocution Thales Luz
Production Linha de Fuga
Acknowledgments Keissy Carvelli, André Feitosa de Sousa