Thales Luz é um artista brasileiro residente em Coimbra, Portugal. É doutorando em arte contemporânea pela Universidade de Coimbra, Portugal; mestre em artes pela Universidade Federal do Ceará, Brasil (2017); bailarino pelo Curso Técnico em Dança, realizado no Porto Iracema das Artes, Fortaleza, Brasil (2015).
Integrou a residência artística e publicação Encontro em Contratempo, Fortaleza, Brasil (2017), o laboratório de criação em Dança do Porto Iracema das Artes, com a pesquisa Cavalgada Selvagem, Fortaleza, Brasil (2018), o laboratório de prática de performance Crueza ou Inventário de um Erotismo Coletivo, Edição de 2020 do Laboratório de Investigação e Práticas Artísticas (LIPA) - TAGV, Coimbra, Portugal, a residência artística e exposição Habitar-se Coabitar-nos, Coimbra, Portugal (2021) e a formação em práticas de criação artística CORPO|TERRITÓRIO, do Linha de Fuga, Coimbra, Portugal (2023-2024).
A sua prática artística envolve uma implicação ritualística do corpo com questões ancestrais e espirituais, como os trabalhos cénicos Ossuário (2015), Cavalgada Selvagem (2018); e os trabalhos audiovisuais Exumação (2016), Descampado (2017), CAVEIRA (2021), Figueira do Inferno (2021) e Cavalgada Selvagem (2021), apresentados no Brasil, México e Portugal.
Thales Luz is a Brazilian artist residing in Coimbra, Portugal. He is a PhD candidate in contemporary art at the University of Coimbra, Portugal; he holds a master's degree in arts from the Federal University of Ceará, Brazil (2017); and he trained as a dancer at the Technical Dance Course at Porto Iracema das Artes, Fortaleza, Brazil (2015).
He has participated in the artistic residency and publication Encontro em Contratempo, Fortaleza, Brazil (2017); the creation laboratory in Dance at Porto Iracema das Artes, with the research Cavalgada Selvagem, Fortaleza, Brazil (2018); the performance practice laboratory Crueza or Inventory of a Collective Eroticism, 2020 edition of the Laboratory for Research and Artistic Practices (LIPA) - TAGV, Coimbra, Portugal; the artistic residency and exhibition Habitar-se Coabitar-nos, Coimbra, Portugal (2021); and the training in artistic creation practices CORPO|TERRITÓRIO, from Linha de Fuga, Coimbra, Portugal (2023-2024).
His artistic practice involves a ritualistic implication of the body with ancestral and spiritual issues, as seen in his scenic works Ossuário (2015), Cavalgada Selvagem (2018); and in audiovisual works Exumação (2016), Descampado (2017), CAVEIRA (2021), Figueira do Inferno (2021), and Cavalgada Selvagem (2021), presented in Brazil, Mexico, and Portugal.
Casa do Diabo é uma pesquisa para dar corpo a uma dança enquanto experiência oracular diabólica. A abordagem parte do trauma transgeracional da diáspora judaica causada pela Inquisição Católica em Portugal, entre os séculos XV e XIX, e sua conexão com a colonização portuguesa no Brasil. A perseguição, a conversão forçada e o exílio de judeus moldaram a cultura brasileira, especialmente nos sertões, de onde vêm meus antepassados. Esse trauma transgeracional é aqui transformado numa potência ancestral, onde pactos de sobrevivência foram estabelecidos no silêncio traumático. Tal entendimento se fundamenta na leitura que o diabólico assume, como sentido de rutura, cisão, quebra. Em Casa do Diabo, a potência diabólica é localizada como potência dissidente crucial num movimento de transbordamento radical do senso de ordem compulsória, inerente às perspetivas supremacistas. O diabólico como o movimento de estilhaçar, as múltiplas cisões abertas no corpo a uma dimensão do fora, que escapa à forma normativa, e de onde ressoa o infigurável enquanto pulsão primeira de criação do diferente. Neste ponto reside o propósito oracular, que é percebido enquanto procedimento de deslocamento de perspetiva para que outras perspetivas se pronunciem.
O performer médium busca deslocar sua perspetiva individual para que, no transe gerado pela dança, lhe seja concedido olho e visão pela potência diabólica que pretende assumir. O projeto tem sido articulado para a conceção de uma performance, a partir do diálogo do corpo com elementos visuais e sonoros experimentados enquanto ferramenta de iluminação, de sonoplastia e de figurino. Ao longo do processo de investigação de Casa do Diabo, o percurso coreográfico iniciado culminou na visualização e elaboração de 13 imagens. No contexto deste laboratório, proponho direcionar a investigação para a experimentação do corpo em dança, conduzido pela prática de incorporação desses canais, e assim detetar qualidades de movimento do corpo identificadas como ressonância diabólica, viabilizada pelos canais elaborados nas imagens.
Casa do Diabo (House of the Devil) is a research project aimed at giving body to a dance as a diabolical oracular experience. The approach stems from the transgenerational trauma of the Jewish diaspora caused by the Catholic Inquisition in Portugal between the 15th and 19th centuries and its connection to Portuguese colonization in Brazil. The persecution, forced conversion, and exile of Jews shaped Brazilian culture, especially in the hinterlands, from where my ancestors came. This transgenerational trauma is transformed here into an ancestral power, where pacts of survival were established in the traumatic silence.
Such understanding is based on the reading that the diabolical assumes a sense of rupture, division, and breakage. In Casa do Diabo, the diabolical power is located as a crucial dissident force in a radical overflow of the sense of compulsory order, inherent to supremacist perspectives. The diabolical represents the movement of shattering, the multiple divisions opened in the body to a dimension outside normative form, from which the unrepresentable resonates as the primal drive for the creation of the different.
At this point resides the oracular purpose, perceived as a procedure for displacing perspective so that other perspectives may speak out. The performer, as a medium, seeks to shift their individual perspective so that, in the trance generated by dance, they are granted eye and vision by the diabolical power they intend to assume.
The project has been articulated for the conception of a performance, drawing from the dialogue of the body with visual and sound elements experienced as tools for lighting, sound design, and costumes. Throughout the research process of Casa do Diabo, the choreographic path initiated culminated in the visualization and elaboration of 13 images. In the context of this laboratory, I propose to direct the investigation towards the experimentation of the body in dance, led by the practice of embodying these channels, thus detecting qualities of movement in the body identified as diabolical resonance, made viable by the channels developed in the images.