O coletivo espanhol Los 3 Cerditos inicia a sua residência de criação no âmbito das Residências Contra|o|Tempo de Linha de Fuga com a estreia nacional do documentário “Woods” de Marta Blanco, no dia 8 de Março, pelas 19h na Casa do Cinema de Coimbra. Mas haverá mais atividades públicas durante a sua estadia, entre a cidade de Coimbra e as aldeias de Bruscos e Vila Seca, concelho de Condeixa-a-Nova.
As artistas estarão a trabalhar na criação de pequenos universos distópicos a partir de elementos da natureza e de despojos. Utilizarão o pré-cinema, as sombras chinesas, os cantos populares, a história oral, câmeras, desenhos, cabos, fantasias, motores, os seus corpos em movimento, ciborgues, sexuados ou assexuados, os feedbacks.
O ponto de partida deste projeto são as perguntas: Como representar a crise económica ou ecológica? A solidão e a desesperança? O medo e o individualismo? Explorando a ficção científica ou, o que é o mesmo: explorar o presente. E como só conhecessemos o passado, é o que temos para tentar compreender onde estamos.
No Antropoceno, era pós-humanista, somos ciborgues fluídos num mundo onde a tecnologia redefine o nosso corpo e memória. O mar transformou-se em plasticosfera, invadindo os nossos pensamentos. Em trânsito entre o rural, urbano e virtual, vivemos no pós-capitalismo, replicando incessantemente os mesmos sistemas. Alienados, somos produtores e consumidores de dados, num fluxo infinito. Consumimos para sermos controlados. Envoltos em resíduos tecnológicos, enfrentamos violências e ameaças ambientais. No aceleracionismo, vivemos ao ritmo dos bits em corpos máquina. Mesmo no meio rural onde não há passeios, apenas estradas.
Nesta primeira etapa de trabalho que desenvolverão em duas aldeias perto de Coimbra, experimentarão trabalhar de forma coletiva, integrando a Banda Filarmónica de Penela e a comunidade de Vila Seca e Bruscos. Trata-se de assumir a vastidão do empobrecimento do território, das línguas silenciadas, da precarização, da solidão, do medo, da violência, em última análise, da tristeza.
Mas fazê-lo coletivamente é, ao mesmo tempo, permitir que a potência dos afetos, do comunitário, do popular, do lugar onde ainda se guardam possibilidades, conexões e talvez a oportunidade de celebrar com alegria o estar juntas, se manifeste.
ANTECEDENTES
Marta Blanco, Cristina Busto e Luján Marcos começaram a colaborar em projetos de Cristina Busto, como "Shadow Generators" (Laboral Centro de Arte e Criação Industrial) ou "Gabinete Micromundo" (Picnic Sessions, CA2M), desenvolvendo uma série de peças cénicas audiovisuais com dispositivos de câmeras em direto, sombras chinesas, som ao vivo e vários materiais analógicos.
Em 2014, formaram o coletivo Los 3 Cerditos para criar uma peça cénica: "Pigville" durante as residências no Teatro Pradillo (Madrid), onde desenvolveram um trabalho escultórico, performativo e visual.
Embora sejam três pessoas com diferentes impulsos criativos, as suas práticas entrelaçam-se, complementando-se. As principais técnicas que utilizam são vídeo, performance e artes plásticas. O seu trabalho é transversal, heterodoxo, rebelde, desobediente, inocente, crítico, divertido, melancólico, pequeno, triste, frágil, ágil…
Até agora, os seus projetos foram sempre para site-specific, sem pensar na sua posterior circulação, permitindo abrir mais as suas inclinações para a improvisação. Este é um dos desafios que enfrentam sempre que se reunem: conceber uma peça e lfazê-la circular. Também estão num momento em que procuram usar mais o corpo como ferramenta, continuando a aprofundar esse processo híbrido entre o cinema e o palco, no qual começaram como maquinistas de pequenos universos visuais e que têm corporificado com a ação/performance, leitura, música ou compondo imagens com seus próprios corpos.
Contexto: As residências Contra|o|Tempo é um programa de Linha de Fuga que acontece como programa intercalar ao festival e laboratório Linha de Fuga. Feito sempre em colaboração com parceiros locais, o programa acolhe projetos em criação e investigações artísticas de criadores nacionais e estrangeiros.
No período de agosto de 2023 e março de 2024, a ideia de residência expande-se e desdobra-se em várias frentes. Para além de promover espaços de experimentação para criadores nacionais e estrangeiros, permite a relação entre investigações artísticas e académicas através de conversas abertas com a academia, desenvolve ações de formação para a comunidade profissional local, apresenta um programa de obras artísticas de alguns dos artistas residentes, promove um sistema de arquivo destas práticas e expande o espaço de residência a territórios rurais à volta de Coimbra, proporcionando diferentes possibilidades de interação entre artistas convidados e locais.