Criação para o espaço público, em torno da figura de um coro de mulheres. O processo de criação inclui um workshop de voz e movimento destinado a 10 mulheres de Coimbra. Interessa-nos explorar o potencial estético e político em torno da figura do coro – um coletivo de vozes que negociam o seu anonimato e singularidade no esforço de suster juntas uma harmonia efémera. Interessa-nos também a relação entre voz, corpo e fragilidade, desconstruindo a crença de que a conquista de visibilidade, de ocupação, de contaminação deve estar associada a uma ideia de força, de potência, de clareza. O que é uma voz vulnerável? Pode a vulnerabilidade contaminar? Poderão haver outros modos de estar presente, de reclamar um lugar? A pesquisa cénica e coreográfica centrar-se-á nesta relação entre espaço íntimo e espaço público, procurando ativar a paisagem como uma caixa de ressonância, onde as vozes, os corpos e os movimentos mapeiam e amplificam a vulnerabilidade que já está em nós, entre nós e no mundo. Propagando-se corpo a corpo, do corpo para a arquitetura, da parede para a voz, da memória para o gesto, do gesto para o desejo de futuro.
No workshop faremos um levantamento, através de práticas de movimento, de canto e de escrita, das palavras silenciadas. Se, como disse a Audre Lorde, “your silence will not protect you”, então talvez seja melhor cantar. Desafiar a imposição desse silêncio juntas, com canções vindas de uma necessidade urgente de nomear o que nos incomoda, o que nos move. Este é um gesto artístico feminista e com uma grande componente ativista, que pretende criar um espaço coletivo de escuta e de sintonização com as vozes, as emoções, as biografias de cada mulher que se apresentar. Interessa-nos trabalhar exclusivamente com mulheres, porque estas vozes têm séculos de silenciamento. Que repertório de canções traz cada uma? Canções de esconjuro, de reclamação, de ira, de transformação. Qual é o repertório coletivo que o nosso encontro pode gerar? Que palavras podemos criar juntas? Que refrões? Que melodias se inscrevem nas diferentes partes do nosso corpo? Como podemos movê-las para que comecem finalmente a falar e a cantar? As melodias que se pegam ao ouvido e que vão tecendo as redes invisíveis que precisamos de construir.
Creation for the public space, around the figure of a chorus of women. The creation process includes a voice and movement workshop for 10 women from Coimbra. We are interested in exploring the aesthetic and political potential surrounding the figure of the choir - a collective of voices that negotiate their anonymity and uniqueness in the effort to sustain an ephemeral harmony together.
We are also interested in the relationship between voice, body and fragility, deconstructing the belief that the achievement of visibility, occupation, contamination must be associated with an idea of strength, power, clarity. What is a vulnerable voice? Can the vulnerability contaminate? Could there be other ways of being present, of claiming a place?
Scenic and choreographic research will focus on this relationship between intimate space and public space, seeking to activate the landscape as a sounding board, where voices, bodies and movements map and amplify the vulnerability that is already in us, between us and the world. Propagating body to body, from body to architecture, from wall to voice, from memory to gesture, from gesture to the desire for the future. In the workshop we will make a survey, through movement, singing and writing practices, of the silenced words. If, as Audre Lorde said, “your silence will not protect you”, then it might be better to sing. Challenge the imposition of this silence together, with songs coming from an urgent need to name what bothers us, what moves us.
This is a feminist artistic gesture and with a large activist component, which aims to create a collective space for listening and attuning to the voices, emotions, biographies of each woman who presents herself. We are interested in working exclusively with women, because these voices have been silenced for centuries. What repertoire of songs does each have? Songs of hiding, complaining, anger, transformation. What is the collective repertoire that our meeting can generate? What words can we create together? What choruses? What melodies are inscribed in the different parts of our body? How can we move them so that they finally start talking and singing? The melodies that are heard and that weave the invisible networks that we need to build.
Direção Artística Catarina Vieira
Direção Musical Aixa Figini
Interpretação e co-criação Josefa Pereira e participantes do workshop
Documentação e edição do arquivo sonoro Artur Pispalhas
Apoio Financeiro República Portuguesa - Cultura I DGARTES – Direção-Geral das Artes
Co-produção: Linha de Fuga
Residências artísticas: Alkantara; Centro Cultural da Malaposta; Musibéria; Espaço da Penha | O Rumo do Fumo
Artistic Direction – Catarina Vieira
Musical Direction – Aixa Figini
Interpretation and co-creation – Josefa Pereira and workshop participants
Documentation and editing of the sound arquives– Artur Pispalhas
Financial Support: República Portuguesa - Cultura I DGARTES – Direção-Geral das Artes
Co-production : Linha de Fuga
Artistic Residencies: Alkantara; Centro Cultural da Malaposta; Musibéria; Espaço da Penha | O Rumo do Fumo