Durante os meses de outubro e novembro, Linha de Fuga apresenta um ciclo de conversas sem medo, integrado na programação do festival e laboratório. Pretendemos refletir em conjunto, potenciar o cruzamento entre investigação científica e artística, provocando conversas e ativações de distintos espaços de Coimbra.
Num convite ao Observatório Masculinidades.pt do CES e a Catarina Silva (do antigo coletivo Mundus) várias conversas fazem-nos refletir sobre do que temos medo e porquê.
A precariedade expande-se para além da esfera do trabalho, torna-se condição da existência contemporânea instável e frágil. No século XXI a dúvida impera, a incapacidade de fazer projeções, de saber onde se estará daqui a cinco anos, se haverá sequer possibilidades para estar, ou para pagar a renda no final do mês. Já não há futuro, ou talvez ele se encontre já no meio de nós, escondido, pronto a ser revelado a quem se atreva a tirar a máscara, a quem tente encontrar significado nos sonhos e nas visões. Talvez o futuro já vá sendo construído, por quem teima em desenhar novas formas de organização do trabalho e das relações humanas, de distribuição do capital, por quem cria sustento.
Convidades:
Miguel Afonso Carranca (Realizador, escritor, fotógrafo)
Vera Silva (antropóloga, formadora, performer)
Carolina Rocha (investigadora, vice-presidente da Associação de Bolseiros de Investigação Científica)
O medo é uma sensação humana, uma reação química primária que nos coloca num estado de urgência, uma descarga de adrenalina que dá aos animais energia e poder para enfrentar a ameaça, ou fugir. Nas sociedades contemporâneas, o medo é exacerbado por um conjunto de fatores: o desenvolvimento tecnológico e a consequente ampliação de ferramentas de controlo e vigilância; o auge destrutivo de um império e as ruínas que a sua expansão deixa pelo caminho; a perceção do tempo e do espaço alterada pela proximidade e aceleração digital; o ataque premeditado contra a calma e a tranquilidade; a perda de laços comunitários, a precariedade e a vulnerabilidade económica. O medo já não é um mero instinto de sobrevivência, mas é imposto, muitas vezes, como ferramenta para legitimar a guerra, a soberania política e a violência.
Num mundo que nos quer dentro dos limites e sem imaginação, bebemos da experiência daqueles que criam, numa teimosia em viver, naquelas cuja vontade de se expressarem é maior do que o medo. As conversas sem medo pretendem ser um espaço de escuta vulnerável e participação ativa, em que nos deixamos afetar pela experiência e conhecimento do outro e deslocamos o medo, em busca das suas raízes coletivas e das formas partilhadas de o enfrentar.
Tatiana Moura & Catarina Silva
curadoras Conversas sem Medo
Utilizaremos o dispositivo “The Long Table” de Lois Weaver para fazer estas conversas, um dispositivo simples de participação com algumas regras de etiqueta que ativam a escuta,para convidar o conhecimento da comunidade em torno de conversas difíceis, quebrar barreiras institucionais ao conhecimento e cultivar comunidade.
During the months of October and November, Linha de Fuga presents a cycle of "Conversations Without Fear," integrated into the programming of the festival and laboratory. Our aim is to reflect together, fostering the intersection between scientific and artistic research, sparking conversations, and activating different spaces in Coimbra. In collaboration with the Observatório Masculinidades.pt from CES and Catarina Silva (from the former Mundus collective), several discussions invite us to reflect on what we fear and why.
Precarity extends beyond the sphere of work, becoming a condition of contemporary existence—unstable and fragile. In the 21st century, doubt reigns, with the inability to make projections, to know where one will be in five years, or whether there will even be a place to be, or the ability to pay rent at the end of the month. There is no longer a future, or perhaps it is already among us, hidden, ready to be revealed to those who dare to unmask it, to those who try to find meaning in dreams and visions. Perhaps the future is already being built by those who insist on designing new forms of work organization and human relationships, by those who create sustenance.
Guests:
Miguel Afonso Carranca (Director, Writer, Photographer)
Vera Silva (Anthropologist, Trainer, Performer)
Carolina Rocha (Researcher, Vice-President of the Scientific Research Scholarship Association)
Fear is a human sensation, a primary chemical reaction that puts us in a state of urgency, an adrenaline rush that gives animals energy and power to face a threat or flee. In contemporary societies, fear is heightened by a set of factors: technological development and the consequent expansion of control and surveillance tools; the destructive peak of an empire and the ruins its expansion leaves behind; the perception of time and space altered by digital proximity and acceleration; the premeditated attack on calm and tranquility; the loss of community ties, precarity, and economic vulnerability. Fear is no longer just a survival instinct, but is often imposed as a tool to legitimize war, political sovereignty, and violence.
In a world that wants us confined within limits and without imagination, we draw from the experiences of those who create, in a stubbornness to live, in those whose desire to express themselves is greater than their fear. The "Conversations Without Fear" aim to be a space of vulnerable listening and active participation, where we allow ourselves to be affected by the experience and knowledge of the other and displace fear, in search of its collective roots and the shared ways to face it.
Tatiana Moura & Catarina Silva
Curators of "Conversations Without Fear"
We will use Lois Weaver's device, "The Long Table," for these conversations—a simple participatory method with some etiquette rules that activate listening, inviting community knowledge around difficult conversations, breaking institutional barriers to knowledge, and cultivating community.
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