Paulina é a quinta de sete filhos, nascida na Bolívia onde viviam seus pais e irmãos mais velhos, depois de imigrados da Argentina. Começavam os processos de ditadura na América do Sul e com eles, a inflação. É formada em Direito mas nunca exerceu, no entanto, esta licenciatura deu-lhe acesso ao Mestrado Interdisciplinar em Teatro e Artes Vivas na Universidade da Colômbia, em Bogotá, cidade para onde emigrou porque queria estudar. Paulina é artista interdisciplinar, a sua prática artística é composta por uma série de gestos que compõem não apenas os seus espaços sensíveis, mas também aquelas esferas de resistência que a constituem como migrante, sudaca (do sul), filha de canalizador e de costureira, bruxa em transformação não-binária (nomear-se mulher provoca-lhe um conflito cada vez maior). A sua prática artística oscila entre a ficção das palavras e a geração de imagens e sensações, entre o real e o virtual, entre a teatralidade e a performatividade.
Paulina is the fifth of seven children, born in Bolivia where her parents and older siblings lived, after immigrating from Argentina. The dictatorial regimes in South America began, and with them, inflation. She has a degree in Law, but never practiced; however, this degree gave her access to the Interdisciplinary Masters in Theater and Performing Arts at the University of Colombia, in Bogota, a city she emigrated to because of her studies. Paulina is an interdisciplinary artist, her artistic practice is composed of a series of gestures that form not only her sensitive spaces but also those spheres of resistance that constitute her as a migrant, sudaca (from the south), daughter of a plumber and a seamstress, witch in a non-binary transformation (naming herself as a woman provokes an increasing inner-conflict). Her artistic practice oscillates between the fiction of words and the production of images and sensations, between the real and the virtual, and between theatricality and performativity.
PROPOSTA DE DOCUMENTAÇÃO/ARQUIVO DE LINHA DE FUGA 2022
Querem criar uma crónica (Guamán Poma de Ayala). Propõem trabalhar com a escrita a partir da sua dimensão expandida e como o motor do trabalho de documentação e arquivo no Laboratório; como fórmula do sussurro, como formulação de presságios, contrafeitiços para reencantar; através da escrita querem exercitar a escuta, querem espalhar a febre do arquivo; escrever com a língua, escrever com o cotovelo, a partir dos intestinos, escrever entre todos como um ecossistema mutante. Através de uma série de provocações cuidadosas de "gualicheras" e bruxarias, pretendem propor aos participantes de Linha de Fuga maquinarias de arquivo e memória, de ficção e autoficção, para construir juntos uma memória do futuro.
Esta é uma proposta coletiva de documentar Linha de Fuga 2022 que nasce das reflexões geradas na plataforma GERMINAL, um espaço de pensamento que juntas começaram a desenvolver neste último ano que é um viveiro de pesquisas para as artes vivas, em território boliviano. Essa curadoria-cura como lhe chamam permitiu-lhes imaginar os processos de criação a partir de uma perspetiva ampliada como curadoras-curandeiras do trabalho artístico, imaginando este trabalho de curadoria-cura clínica-curandeira como um processo de regeneração e escuta profunda dos artistas. Para elas, o artista está para lá do seu virtuosismo e tecnicidade, pelo que preferem focar-se nas potências/poderes do artista-poeta, do artista-astrólogo e do artista-agricultor, tal e como se consideraria esta profissão no âmbito das cosmovisões andinas.
DOCUMENTATION PROPOSAL/ARCHIVE OF 2022’S LINHA DE FUGA
They want to create a chronicle (Guamán Poma de Ayala). They propose to work with writing from its expanded form and as the driving force of the documentation and archive work in the Laboratory; as a formula for whispering, as a formulation of omens and counter-spells to re-enchant. Through writing, they want to exercise listening, they want to spread the thrill of archive work; to write with the tongue, to write with the elbow, from the gut, to write among all as a mutant ecosystem. Through a series of careful provocations of "gualicheras" and witchcraft, they intend to propose to the participants of Linha de Fuga types of machinery of archive and memory, of fiction and autofiction, to build together a memory of the future.
This is a collective proposal to document 2022’s Linha de Fuga, born from the reflections generated in the Germinal platform, a space of thought that they have started to develop together in this last year, which is a research nursery for the performing arts, in Bolivian territory. This curatorial-healing - as they call it - has allowed them to imagine the processes of creation from an expanded perspective as curators-healers of the artistic work, imagining this curatorial-healing work as a process of regeneration and a way of deeply listening to the artists. For them, the artist is beyond their virtuosity and technicality, so they prefer to focus on the strengths/powers of the artist-poet, artist-astrologer, and artist-farmer, just as one would consider this profession within the Andean cosmovisions.